quarta-feira, junho 08, 2016

O outro lado do Paraiso

Inevitável não lembrar da minha infância! Hoje fui votar. Pela primeira vez no Rio de Janeiro. Fazia tempo que não votava! rs Embora meu título tenha sido transferido em 2011 para cá, em 2012 estava em SP e acabei justificando. Em 2010 não votei, porque estava em depressão após a morte de meu irmão.
Comecei minha vida política muito jovem, acho que aos 9 meses de vida! Rs Sempre rodeada de reuniões políticas em casa, aprendi desde cedo o valor da democracia. Meu pai (Roberto Vital Anau ), a ele eu devo muito do que sou hoje. Lembro, embora muito pequena, das aflições e das lutas pelo voto direto. Lembro quando meu pai me apresentou ao Lula (minha irmã Tatiana Avila confirma a história que pensava ser uma memória construída). Quando eu era pequena ouvia falar desse herói do povo, o Lula, e dizia que ia casar com ele! Kkkk cresci e não tenho mais essa expectativa! Kkk
Hoje ao caminhar com um grande amigo pelas ruas do Flamengo e de Laranjeiras, vendo tanta gente na rua, tantos carros apinhados nas vias estreitas, os restaurantes mais cheios que as Zonas eleitorais, lembrei da minha infância com uma força tão grande!
Quando eu tinha 11 anos ou antes - não lembro qual foi a primeira eleição, mas a da Erundina eu lembro - fazíamos boca de urna com meu pai. E agradeço a ele por isso. Pois se hoje tenho poder de persuasão, devo isso a ele, a esses momentos. Meu pai fazia parte da corrente O Trabalho, do PT, que tinha muito pouco recurso para eleições. Ele nos dava um punhado de panfletos e nos explicava: tínhamos que perguntar primeiro se a pessoa já tinha candidato a vereador. Se a pessoa respondesse que sim, não podíamos dar o panfleto, pois era desperdício. Se a pessoa respondesse que não, então explicaríamos quem era nosso candidato e o porquê merecia o voto. Então, se o eleitor demonstrasse disposição em votar no candidato entregávamos o panfleto. Ao final, eu e meus irmãos cassávamos no mar de santinhos que cobria as calçadas, se havia algum de nosso candidato. Se encontrávamos algum, ficávamos frustrados, pois não havíamos explicado direito! Lembro a primeira vez que uma senhora disse que votaria na candidata que para quem estava fazendo campanha, lembro da sensação, da alegria, da satisfação. É a mesma satisfação que tenho hoje quando conquisto algo depois de uma grande luta. Mas foi lá que aprendi! Aprendi também a perder, pois nunca elegemos um candidato! Kkkk Mas a frase de meu pai ficou para sempre em minha vida: “A paciência é revolucionária!”. Sim, eu acredito.
Ontem assisti ao belo filme “O Outro Lado do Paraíso”. E o protagonista buscava pelo paraíso Evilah, e acreditava que através da política ia conseguir. A busca por aquele sonho lhe conferia uma dignidade! Um brilho nos olhos. O Eduardo Moscóvis fez muito bem. É aquela dignidade que não podemos perder. A de buscar um sonho.
Aprendi muitas coisas com meus pais. Minha mãe (Edna) nos ensinou a dividir. Éramos três irmãos. Então sempre tínhamos que dividir tudo em três. Ao cúmulo de uma vez dividir um Sonho de Valsa em três pedaços. Mas era extremamente saboroso saber que os meus irmãos também estavam provando daquela felicidade que eu podia provar. Aprendi ali, que o coletivo é tão (ou mais) importante que o individual.
Hoje sou mais feliz se as pessoas que amo estão felizes. Trabalho para que aqueles que estão ao meu redor possam ser felizes também. Não quero ser feliz sozinha enclausurada num castelo construído com a solidão.
Ontem, ao assistir o filme, percebi que tenho deixado meus sonhos para trás. Tenho sonhado o sonho dos outros. Preciso voltar os olhos pra mim mesma. Deixei a política de lado, a arte, o futebol (o meu Corinthians que tanto amei!) Tenho me deixado de lado. Hoje caminhando pela Senador Vergueiro, lembrei das caminhadas com meu irmão, que nunca se deixou levar pelos sonhos alheios. A dignidade com a qual ele lutava pelos sonhos dele me fazia admira-lo. Pena que não teve forças para seguir a diante.
Hoje muitas bandeiras se levantaram por partidos, por candidatos. Hoje eu consegui perceber que tinha guardado a minha bandeira em casa e há tempos esquecido dela.
Sim, eu vou em busca de Eviláh. Seja lá onde for!
PS Na minha Biblia, a tradução chama a terra de Eviláh de Havillá! O paraíso somos nós!
Texto escrito em outubro de 2014, mas ainda penso da mesma forma

Não me lembro de termos uma campanha tão acirrada, talvez quando Collor estava disputando...
Gostaria de escrever o porquê voto na Dilma. Concordo que há falhas, concordo que temos que cobrar o atual governo mudanças em diversos pontos. Há muitas coisas que devem ser corrigidas, e nosso papel não é fechar os olhos, mas cobrar tais mudanças. Contudo, porém, todavia, vou me ater a minha experiência pessoal. Não posso falar de economia, pois há duas correntes divergentes no momento: os que dizem que estamos no caminho certo e os que dizem que não. Como não sou economista, deixo isso para meu pai que o é. (E se fosse eleita para um cargo executivo hoje, não contrataria meu pai para não ser acusada de nepotismo, mas o teria como consultor particular. )Enfim... vou falar do que vi e vivi nesses meus anos, que não revelo quantos são....
Quando era criança, bem criança, viajava todo o final de ano (ou os que me lembro) para a casa dos meus parentes em São José do Rio Preto. Eu me divertia muito: achava o máximo poder andar descalça, porque todos andavam. Achava o máximo comer comida do fogão a lenha, porque lá gás não existia. Achava o máximo não ter água encanada, pois podíamos tomar banho em um banheiro improvisado do lado de fora. E as noites? As noites eram a melhor coisa, pois não tinha luz, podíamos contar histórias iluminados por lampiões à querosene. Lembro até hoje do cheiro do querosene queimando e das risadas dos tios de minha mãe. A Tia Tita... era uma figura engraçada. Ela me me lembrava o Sitio do Pica Pau Amarelo, que meu pai lia à noite pra gente dormir. Tinha a cara da Dona Benta dos meus sonhos, mas era muito magra! Muito mesmo. Quando a abraçava tinha medo de quebrá-la ao meio. Mas ela era um personagem de história infantil pra mim. Eu amava andar a cavalo, atolar o carro no lamaçal das estradas de terra, tudo era festa pra minha meninice. E como as minhas primas ficavam felizes com as minhas roupas e sapatos velhos! Eu nem gostava mais deles e pra elas eram roupas de princesa. Eu só ficava triste quando pegava bicho de pé! Doía muito pra tirar! Mas de resto, adorava viver aquele lugar.
Com o tempo fui crescendo e percebendo que aquilo com o que me divertia tinha nome: miséria! E quando passei a olhar nos olhos dessas pessoas, passei a sentir dor. A dor de uma prima que caiu num tacho de banha em que estava sendo feito sabão (por falta de recursos para comprar) e que até hoje tem o corpo desfigurado pelo acidente. A dor de ter que carregar baldes de água o tempo todo. A dor de não ter o que comer. Tudo aquilo, com o tempo passou a apertar meu coração de forma que não conseguia mais olhar com ternura, mas com pavor.
O tempo levou minha Tia Tita. Morreu. De miséria. Por causa de uma solitária. Os tios também se foram aos poucos. Hoje tenho uma tia dessa época: Tia Lídia. A casa dela, onde às vezes dormíamos no escuros, está toda reformadinha, com microondas, geladeira, comida em fartura. A casa onde adorávamos moer café, continua com o mesmo cheirinho de café moído na hora, mas agora pode-se dormir um pouco mais tarde, porque a diversão não é mais debulhar milho, mas assistir televisão. A única lembrança daquele período é que minha Tia é encurvada. Sim, de tanto trabalhar na roça, de carregar água, de tanto tentar pescar nos rios sem peixe, ficou totalmente encurvada. Mas graças ao governo atual, hoje ela tem uma UPA perto de casa para atendê-la. Talvez pudesse ter evitado a curvatura, se houvesse médicos quando sua coluna começou a se dobrar. Não teve. Hoje tem de conviver com isso.
Minha avó, já escrevi em outro post, vive há anos com um salário mínimo. E antes do aumento que o Armínio diz que quebrou o país, tínhamos que sustentá-la. Hoje ela tem dignidade. Paga suas contas. Mas dirão os mais céticos: mas o mínimo não dá para viver , pois é muito baixo, justamente por isso sou Dilma, para ele continuar subindo. E para minha avó é possível, pois vive no interior e graças aos peixes pescados na roça dia e noite, tem sua casa própria.
Tenho primos que se formaram e conseguiram bons empregos, puderam abrir mão de programas como o Minha Casa, Minha Vida. Minha prima, Cris, faz bolos e tem seu carro e sua casa, imagina se teria condições de ter essas coisas com os juros altos do tempo do FHC.
O meu apartamento é financiado pela Caixa! Devo terminar de pagar no final do ano que vem! uhuhu
Há muito por fazer. Sou ferrenha crítica, principalmente aos últimos anos de política cultural da Marta. Mas não quero voltar no tempo em nome de uma alternância no poder que só é apregoada para o governo federal - ninguém fala em alternar poder nos Estados e o resultado em São Paulo está sendo catastrófico.
Enfim... Hoje a miséria em minha família virou história. Uma história que não quero que volte! Por isso, e por todos que viveram uma história superada de pobreza, meu voto é ‪#‎Dilma13‬.